Terapia Alvo: O Avanço que Está Transformando a Hematologia
- millehematologia
- 19 de set. de 2024
- 6 min de leitura

A terapia alvo é uma inovação revolucionária no tratamento de cânceres do sangue, como leucemias, linfomas e mieloma múltiplo. Diferente dos tratamentos tradicionais, como quimioterapia e radioterapia, que atacam tanto células doentes quanto saudáveis, a terapia alvo atua de forma mais precisa, atingindo apenas as células cancerígenas com menor dano colateral ao organismo.
O que é a Terapia Alvo?
A terapia alvo foi desenvolvida com base em uma compreensão mais profunda do funcionamento das células cancerígenas. A ciência identificou que muitas vezes as células doentes apresentam alterações específicas — como proteínas ou genes alterados — que são responsáveis pelo crescimento e multiplicação descontrolada dessas células. A terapia alvo, como o próprio nome sugere, foca diretamente nessas alterações, bloqueando os sinais que fazem o câncer se desenvolver.
Breve Histórico
A terapia alvo começou a ganhar notoriedade nos últimos 20 anos. O primeiro tratamento amplamente utilizado foi o imatinibe, aprovado no início dos anos 2000, que transformou o tratamento da leucemia mieloide crônica, uma condição antes com poucas opções. Desde então, diversos outros medicamentos foram desenvolvidos, oferecendo novas possibilidades para vários tipos de cânceres hematológicos.
Quais São os Benefícios da Terapia Alvo?
Um dos maiores benefícios da terapia alvo é a redução dos efeitos colaterais. Diferente da quimioterapia tradicional, que afeta todas as células em crescimento rápido (tanto as saudáveis quanto as cancerosas), a terapia alvo é mais seletiva. Isso significa que os pacientes geralmente experimentam menos efeitos adversos, como queda de cabelo, anemia severa e náuseas intensas. Além disso, ela pode ser uma opção para pacientes cujos cânceres não responderam bem a outros tratamentos, oferecendo novas esperanças.
Outro grande avanço é a possibilidade de personalização do tratamento. Com a terapia alvo, o médico pode realizar exames genéticos para identificar quais alterações estão presentes no câncer do paciente e, com base nisso, escolher o medicamento mais adequado. Isso aumenta significativamente as chances de sucesso.
Algumas Terapias Alvo Relevantes na Atualidade
1. Anticorpos Monoclonais
Anti-CD20
· Rituximabe:
o Alvo: CD20, uma proteína presente na superfície de células B.
o Indicações: Usado em linfomas não-Hodgkin (LNH) e leucemia linfocítica crônica (LLC). Atua destruindo as células B, incluindo as malignas.
· Obinutuzumabe:
o Alvo: CD20.
o Indicações: Tratamento de LLC e linfoma folicular. Atua promovendo a morte das células B por apoptose e mecanismos imunomediados.
Anti-CD38
· Daratumumabe:
o Alvo: CD38, uma proteína altamente expressa em células de mieloma múltiplo.
o Indicações: Tratamento do mieloma múltiplo, usado tanto em monoterapia quanto em combinação com outros medicamentos.
· Isatuximabe:
o Alvo: CD38.
o Indicações: Tratamento do mieloma múltiplo. Similar ao daratumumabe, promove a morte das células de mieloma.
Anti-CD19
· Tafasitamabe:
o Alvo: CD19, uma proteína presente nas células B malignas.
o Indicações: Usado no tratamento de linfoma difuso de grandes células B (LDGCB), normalmente em combinação com lenalidomida.
Anti-SLAMF7 (CS1)
· Elotuzumabe:
o Alvo: SLAMF7 (CS1), uma proteína altamente expressa em células de mieloma.
o Indicações: Tratamento do mieloma múltiplo em combinação com outros agentes imunomoduladores (ex: lenalidomida).
Anti-CD52
· Alemtuzumabe:
o Alvo: CD52, uma proteína presente em células T e B maduras.
o Indicações: Usado no tratamento de leucemia linfocítica crônica (LLC) e em alguns casos de linfoma e esclerose múltipla.
2. Conjugados Anticorpo-Droga (ADCs)
Anti-CD22
· Inotuzumabe Ozogamicina:
o Alvo: CD22, encontrado nas células B malignas.
o Indicações: Usado no tratamento de leucemia linfoblástica aguda (LLA) de células B.
Anti-CD30
· Brentuximabe Vedotina:
o Alvo: CD30, presente em linfomas de Hodgkin e linfoma anaplásico de grandes células.
o Indicações: Usado em linfomas de Hodgkin e linfomas anaplásicos. O anticorpo carrega uma toxina que é liberada dentro da célula cancerosa, causando sua destruição.
Anti-BCMA (antígeno de maturação de células B)
· Belantamabe Mafodotina:
o Alvo: BCMA, presente em células malignas de mieloma múltiplo.
o Indicações: Mieloma múltiplo. O anticorpo entrega uma toxina diretamente para as células de mieloma, promovendo sua destruição.
Anti-CD33
· Gemtuzumabe Ozogamicina:
o Alvo: CD33, presente em células precursoras de leucemia mieloide aguda (LMA).
o Indicações: Tratamento de leucemia mieloide aguda (LMA). Entrega um quimioterápico diretamente nas células cancerígenas, causando sua morte.
Anti-CD79b
· Polatuzumabe Vedotina:
o Alvo: CD79b, encontrado nas células B.
o Indicações: Linfoma difuso de grandes células B (LDGCB). O anticorpo carrega uma toxina para as células B malignas, causando sua destruição.
3. Anticorpos Biespecíficos
Anti-CD19/CD3
· Blinatumomabe:
o Alvo: CD19 (nas células B) e CD3 (nas células T).
o Indicações: Usado no tratamento da leucemia linfoblástica aguda (LLA). Liga células T e células B malignas, direcionando o sistema imunológico para atacar as células B cancerosas.
Anti-BCMA/CD3
· Teclistamabe:
o Alvo: BCMA e CD3.
o Indicações: Mieloma múltiplo. Liga células T às células malignas de mieloma, promovendo sua destruição.
· Elranatamabe:
o Alvo: BCMA e CD3.
o Indicações: Mieloma múltiplo. Liga células T às células malignas de mieloma, promovendo sua destruição.
Anti-GPRC5D/CD3
· Talquetamabe:
o Alvo: GPRC5D (um novo alvo em células de mieloma múltiplo) e CD3.
o Indicações: Mieloma múltiplo. Liga células T a células malignas, promovendo a destruição das células de mieloma.
Anti-CD20/CD3
· Mosunetuzumabe:
o Alvo: CD20 (nas células B) e CD3 (nas células T).
o Indicações: Tratamento de linfomas não-Hodgkin. Liga células T às células B malignas, resultando em sua eliminação.
4. Inibidores de Pequenas Moléculas
Inibidores de BTK (Tirosina Quinase de Bruton)
· Ibrutinibe:
o Alvo: BTK, uma enzima que participa da sinalização de células B.
o Indicações: Usado no tratamento de leucemia linfocítica crônica (LLC), linfoma de células do manto e outros linfomas de células B. Inibe a proliferação e induz a morte das células B malignas.
· Acalabrutinibe:
o Alvo: BTK.
o Indicações: LLC e linfoma de células do manto. Similar ao ibrutinibe, interrompe a sinalização das células B.
· Zanubrutinibe:
o Alvo: BTK.
o Indicações: Leucemia linfocítica crônica (LLC), linfoma de células do manto, macroglobulinemia de Waldenström. Oferece uma inibição mais seletiva da BTK em comparação com o ibrutinibe, com menos efeitos colaterais.
Inibidor de BCL-2
· Venetoclax:
o Alvo: BCL-2, uma proteína que previne a morte celular (apoptose).
o Indicações: Leucemia linfocítica crônica (LLC) e linfoma de células do manto. Promove a morte programada das células cancerosas.
Inibidores de Tirosina Quinase (TKIs)
· Imatinibe:
o Alvo: BCR-ABL, uma proteína de fusão que resulta de uma translocação genética e promove o crescimento descontrolado de células cancerígenas.
o Indicações: Tratamento de leucemia mieloide crônica (LMC) e leucemia linfoblástica aguda (LLA) com a mutação BCR-ABL.
· Dasatinibe:
o Alvo: BCR-ABL.
o Indicações: Usado em leucemia mieloide crônica (LMC) e leucemia linfoblástica aguda (LLA) com a mutação BCR-ABL.
· Nilotinibe:
o Alvo: BCR-ABL.
o Indicações: Tratamento de leucemia mieloide crônica (LMC), particularmente em pacientes resistentes ou intolerantes ao imatinibe.
· Bosutinibe:
o Alvo: BCR-ABL.
o Indicações: Usado em leucemia mieloide crônica (LMC) resistente a outros inibidores de tirosina quinase (TKIs).
· Ponatinibe:
o Alvo: BCR-ABL, incluindo a mutação T315I resistente a outros TKIs.
o Indicações: Tratamento de leucemia mieloide crônica (LMC) e leucemia linfoblástica aguda (LLA) com a mutação BCR-ABL, especialmente em pacientes com resistência a outros TKIs.
· Asciminibe:
o Alvo: BCR-ABL, atuando de forma altamente seletiva na "bolsa mirística", uma região única da proteína BCR-ABL.
o Indicações: Tratamento de leucemia mieloide crônica (LMC) em pacientes com resistência ou intolerância a outros TKIs.
O Futuro da Terapia Alvo
O campo da terapia alvo continua a evoluir rapidamente. Pesquisas estão sendo realizadas para desenvolver medicamentos cada vez mais específicos, reduzindo ainda mais os efeitos colaterais e aumentando a eficácia. A combinação da terapia alvo com outras modalidades de tratamento, como a imunoterapia, também tem mostrado resultados promissores, abrindo portas para tratamentos ainda mais eficazes.
Para pacientes e familiares, entender que a medicina está se movendo em direção a tratamentos mais precisos e menos invasivos traz uma nova perspectiva. A cada ano, novas terapias são aprovadas, oferecendo mais opções e esperanças para o controle e até a cura de muitas condições hematológicas graves.
Conclusão
A terapia alvo está mudando o cenário do tratamento de cânceres hematológicos. Com avanços contínuos e novas descobertas, essa abordagem personalizada representa o futuro da medicina oncológica, trazendo esperança e qualidade de vida para os pacientes. Se você ou um ente querido está em tratamento ou busca novas opções, a Mille Hematologia está à disposição para oferecer um atendimento especializado, sempre atualizado com o que há de mais moderno na hematologia.
Comments