Mieloma Múltiplo: O que há de novo e o que está por vir no tratamento?
- millehematologia
- 22 de abr.
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Nos últimos anos, o tratamento do mieloma múltiplo passou por uma verdadeira revolução. Quando iniciei minha trajetória na hematologia, as opções eram limitadas — muitas vezes restritas a melfalano e corticosteroides. Hoje, vivemos uma nova era: temos à disposição combinações mais eficazes, anticorpos monoclonais, terapias celulares e anticorpos biespecíficos, que oferecem respostas mais profundas, maior controle da doença e melhor qualidade de vida.
Avanço dos esquemas quádruplos: mais eficácia desde o início
Uma das maiores inovações foi a incorporação dos anticorpos monoclonais anti-CD38 aos esquemas tradicionais, combinando-os com imunomoduladores e inibidores de proteassoma. Isso resultou nos chamados esquemas quádruplos, disponíveis no Brasil tanto para pacientes elegíveis quanto não elegíveis ao transplante de medula óssea.
Entre as combinações aprovadas, destaco:
Dara-VTD: indicado para pacientes candidatos ao transplante, esse esquema une daratumumabe, talidomida, bortezomibe e dexametasona. O estudo CASSIOPEIA demonstrou que essa combinação aumenta significativamente as chances de resposta completa e de atingir mínima doença residual, quando comparada ao VTD isolado. O uso do daratumumabe também mostrou benefícios na fase pós-transplante, prolongando o tempo sem progressão da doença. É uma opção particularmente relevante no Brasil, onde a talidomida ainda é amplamente disponível pelo SUS.
Isa-VRD: associação de isatuximabe, bortezomibe, lenalidomida e dexametasona, aprovada para pacientes não elegíveis ao transplante. O estudo IMROZ comprovou melhora expressiva na sobrevida livre de progressão, com bom perfil de segurança.
Dara-VRD: essa combinação de daratumumabe, bortezomibe, lenalidomida e dexametasona, avaliada nos estudos PERSEUS e CEPHEUS, foi aprovada no Brasil para ambos os perfis de pacientes — com ou sem indicação de transplante. Mostrou excelente eficácia, com altas taxas de resposta profunda e supressão da doença mínima residual.
Esquemas com três drogas ainda têm papel importante
Embora os esquemas quádruplos tenham ganhado espaço, as combinações com três medicamentos seguem sendo fundamentais, especialmente para pacientes mais idosos ou com outras condições de saúde.
Um bom exemplo é o DRd — daratumumabe, lenalidomida e dexametasona — avaliado no estudo MAIA. Essa combinação apresenta menor toxicidade em geral em comparação com esquemas que incluem bortezomibe, sendo ideal para quem precisa de um tratamento eficaz, mas com menor risco de efeitos adversos. É uma alternativa segura e eficaz para preservar a qualidade de vida em pacientes mais frágeis.
Terapia com células CAR-T: inovação que muda o curso da doença
As terapias com células CAR-T reprogramam as próprias células de defesa do paciente para identificar e destruir as células do mieloma. É uma estratégia revolucionária para pacientes que precisam de um novo tratamento para o Mieloma.
No Brasil, a Anvisa aprovou o ciltacabtagene autoleucel (cilta-cel) para o tratamento de pacientes com mieloma múltiplo recidivado e refratário. Esse produto, que atua sobre o antígeno BCMA, demonstrou respostas profundas e duradouras. Embora o processo de autorização e produção exijam algumas semanas, uma das grandes vantagens dessa abordagem é a possibilidade de o paciente ficar livre de medicações contínuas por um período prolongado.
A infusão é realizada em ambiente hospitalar, com monitoramento especializado para controlar possíveis efeitos colaterais, como febre, alterações neurológicas e inflamações transitórias.
Anticorpos biespecíficos: alternativa promissora e mais acessível
Os anticorpos biespecíficos, também conhecidos como BiTEs, estimulam as células de defesa do próprio paciente a reconhecer e atacar as células do mieloma. São administrados por via subcutânea e não exigem manipulação individualizada das células, como no caso da CAR-T.
Atualmente, estão aprovados no Brasil:
Teclistamabe e elranatamabe, que atuam sobre o antígeno BCMA.
Talquetamabe, que tem como alvo o GPRC5D, outro marcador presente nas células do mieloma.
Após uma fase inicial de ajuste de dose (ramp-up), geralmente feita com curta internação, o tratamento segue de forma ambulatorial. É necessário atenção especial para possíveis efeitos colaterais, como infecções e alterações hematológicas. No caso do talquetamabe, também podem ocorrer mudanças no paladar e na pele.
O futuro: terapias personalizadas e novos alvos
O tratamento do mieloma caminha para abordagens cada vez mais personalizadas. Entre as novidades em estudo, destacam-se:
Uso de CAR-T em fases mais precoces, inclusive como tratamento inicial.
Desenvolvimento de CAR-T alogênicas, prontas para uso imediato, sem necessidade de coleta do paciente.
CAR-T com múltiplos alvos, para superar mecanismos de resistência.
Anticorpos triespecíficos, que atuam em três frentes ao mesmo tempo.
Novos imunomoduladores, como iberdomida e mezigdomida, mais potentes e seletivos.
O que isso significa na prática?
Com tantas possibilidades, o mais importante é garantir avaliação precoce e especializada. O momento certo para iniciar o tratamento pode fazer toda a diferença no controle da doença e na preservação da qualidade de vida.
Pacientes se beneficiam muito ao iniciar o tratamento antes que lesões graves se instalem.
Estudos clínicos devem ser considerados desde a primeira recaída.
O prognóstico do mieloma múltiplo melhorou significativamente — mas isso depende de acesso às opções mais adequadas para cada caso.
Na Mille Hematologia, meu compromisso é oferecer um atendimento atualizado, técnico e cuidadoso. Acompanhamos de perto as novas terapias aprovadas no Brasil e buscamos integrar nossos pacientes aos avanços mais recentes, sempre priorizando segurança, individualização e qualidade de vida.
Se você ou um familiar foi diagnosticado com mieloma múltiplo, agende uma consulta comigo. Vamos juntos construir o melhor plano de tratamento para o seu caso.
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